Fonte: Portal do MEC
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A receita do nosso pão de todo dia pode fazer milagres na sala de aula. 
Ao amassar os ingredientes com as mãos, estudantes compreendem que 
reações químicas e biológicas ocorrem no nosso cotidiano e podem ser 
apaixonantes. Juntar o microscópio e o fogão para oficinas de ciências 
na culinária é uma ideia da bióloga e professora de genética Adlane 
Vilas-Boas, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal 
de Minas Gerais (ICB–UFMG). 
“Como eu gosto de fazer comidas 
simples e saborosas, e a cozinha aproxima as pessoas ao redor da mesa, 
quis popularizar a ciência pela culinária”, explica Adlane, que tem 
mestrado em genética e biologia molecular pela Universidade Estadual de 
Campinas (Unicamp) e doutorado em genética pela University of British 
Columbia. Ao fazer o pão na cozinha da escola, segundo ela, o professor 
pode explicar mais facilmente conceitos de microbiologia, bioquímica e 
até conteúdos de física. 
“É preciso aproveitar a curiosidade dos
 alunos ao redor de algo que todos gostam”, ensina. Da mistura dos 
ingredientes ao pão assado, o aluno vê diante dele várias etapas de 
conhecimento científico — pode visualizar no microscópio as proteínas da
 farinha de trigo, que no movimento de sovar a massa passam por reações 
necessárias à formação do glúten. 
E que substância é essa? É uma
 proteína responsável pela elasticidade da massa produzida com farinha 
de trigo. A professora Adlane dá a dica de lavar vagarosamente a massa 
do pão em água corrente. “O amido vai embora e sobra o glúten, que é uma
 substância emborrachada”, conta. 
Na biologia, o professor pode 
explorar o sistema nervoso, como funciona a química dos receptores para o
 gosto e o olfato. Sabe o cheirinho bom de bolo assado ou bife 
acebolado? Pois então, é um exemplo de química que os alunos 
desconhecem. “Em altas temperaturas, a mistura de proteínas e 
carboidratos resulta em moléculas voláteis, que vão para o ar e instigam
 o nosso olfato”, explica Adlane. 
Esse é o conceito da reação 
química de Maillard [Louis Camille Maillard, médico e químico francês 
(1878-1936)]. “Muitas pesquisas vêm sendo feitas atualmente tentando 
produzir sinteticamente a substância, que é produzida em altíssimas 
temperaturas e dá o gostinho bom do alimento”, ressalta a bióloga. Pela 
reação de Maillard, obtêm-se moléculas voláteis, que dão sabor, odor e 
cor aos alimentos, como, o dourado dos alimentos assados ou do bife 
frito. 
Experimentação — Professor de química do
 Colégio Técnico da UFMG, Alfredo Luís Martins Lameirão Mateus diz que a
 culinária pode ser usada como atividade prática para experimentação e 
explorações. Se bem usada, segundo ele, pode levar o aluno a entender 
melhor como funciona a ciência, e ver a química como algo ao seu 
alcance, que acontece o tempo todo ao seu redor.
Como em química 
estudam-se os materiais e sua transformação, Mateus explica que para 
cozinhar é preciso conhecer as propriedades dos alimentos e controlar 
sua transformação até o ponto certo. “As coisas que acontecem no dia a 
dia são mais familiares, os materiais são em geral baratos e fáceis de 
conseguir, os experimentos são mais seguros — alguns são até comestíveis
 — e as pessoas em geral têm curiosidade sobre o assunto”, comenta.
Quais,
 por exemplo, os fatores que afetam a velocidade de uma reação? O 
professor explica que é possível listar os fatores e pedir aos alunos 
que os memorizem ou criar situações em que eles mesmos explorem as 
reações e cheguem a conclusões. “Então, pode-se comparar o tempo de 
cozimento em diferentes temperaturas, com o alimento em pedaços grandes 
ou pequenos, fazer experimentos que lidem com a conservação dos 
alimentos e saber por que usamos a geladeira”, exemplifica Mateus, que 
tem mestrado em química pela Universidade de São Paulo (USP-SP) e 
doutorado pela Universidade da Flórida.
“O mundo da cozinha é um 
universo muito rico para a ciência”, comenta a professora Adlane. A 
culinária está nas salas de aula também das universidades, em 
laboratórios onde se trabalham as ciências e as relações culturais. No 
microscópio, é possível ver o que ocorre no processo de levedura, a 
multiplicação celular. “É interessante observar o grão de amido, no 
início em grande quantidade, ir sumindo do microscópio à medida que o 
pão cresce porque o amido é transformado em açúcar, álcool e gás 
carbônico, que são aquelas pequenas bolhas.” 
O ciclo de 
aprendizagem na cozinha pode incluir ainda o sistema digestório e as 
reações químicas dos alimentos no organismo. “Boa parte dos alunos tem 
muita curiosidade pela ciência”, afirma o professor Mateus. “Em uma 
situação mais informal, sem ter de memorizar fórmulas e realizar 
cálculos repetitivos, eles demonstram bastante interesse pelo assunto.”
De
 acordo com o professor, basta ver o sucesso dos inúmeros vídeos sobre 
experimentos no YouTube. “A questão envolve tornar as aulas mais 
contextualizadas e tornar o aluno responsável pelo seu aprendizado, mais
 engajado na aula”, salienta. Segundo ele, as aulas em que os alunos 
ficam passivos, só ouvindo o professor falar, têm tudo para dar errado.
No 
Portal do Professor
 do Ministério da Educação há conteúdos de ciência na culinária que 
podem ser aplicados em sala de aula. “A culinária é algo que permite 
trabalhar os conceitos a partir dos fenômenos, usar experimentos de 
forma mais investigativa e que engajem os alunos”, acrescenta Mateus. 
Rovênia Amorim